Do exílio

Houve um tempo em que minha cidade me sufocava, e não era apenas no sentido climático da palavra. Nascida e criada sem nunca ter mudado de bairro, a aparência estanque das coisas me perturbava e impelia a buscar alternativas imediatas. Nessa época, quando meu lema de vida, escrito em rodapés de cadernos e status de msn era "Only a dark cocoon before I get my gorgeous wings and fly away", sair de casa era desejo e necessidade. Era uma questão de identidade, também. Mais que isso, eu sonhava em ver o mundo, em nunca me fixa a lugar algum, morar algum tempo em cada continente, ser poliglota e desprendida.

Se adaptar-se é um processo que depende apenas de duas vias - ser bem recebido e não oferecer resistência às mudanças - , posso dizer que me adaptei bem. Mas "tu não te moves de ti", e mudar de ares não necessariamente significa mudar de atitude. Bagagens emocionais interferem nisso.

Existe a lua-de-mel e existe a realidade: aquele período em que, tirados os óculos cor-de-rosa, você se percebe meio perdido, como sempre esteve, e dessa vez é um pouco pior. Existe saudade, existe as coisas que você fala e as pessoas não conseguem compartilhar por completo: elas não se incluem naquele seu passado. E mesmo que a cidade nova seja bonita, seja interessante, somar-se a ela nem sempre é tão fácil. Exige esforço e habilidades (sobretudo sociais) que eu nunca soube desenvolver tão bem.

Quando você volta para onde você sempre chamou de casa, nas férias, a cidade da sua memória é diferente da cidade real, que continuou mudando e crescendo, assim como as pessoas. Não exatamente melhor ou pior, só diferente. E você também está diferente. Todo mundo percebe, comenta que você amadureceu ou qualquer coisa assim. É engraçado pensar que, se eu nunca tivesse saído, diria estar tudo na mesma, mas nunca está exatamente igual, apesar das tantas outras coisas que continuam sendo o motivo pelo qual você quis ir embora.

E aí, em alguns momentos, surge uma sensação estranha de não pertencer a lugar algum. Mas isso envolve fatores internos, externos, ilusões, tempo perdido, auto-sabotagens e uma lista de coisas que eu posso contar depois, como sobre sentir-se mal mesmo junto de pessoas que deviam te fazer bem, sobre se esconder pra não dar satisfações, sobre ter tanta coisa pra fazer que acaba não fazendo nada.

E tudo isso só pra dizer que janeiro foi um mês difícil, mas eu cheguei a algumas boas conclusões sobre o que é importante pra mim. Algumas eram conclusões antigas de que eu tinha esquecido um pouco. Vou tentar: listar tudo pra não esquecer, colocar em prática, continuar caminhando.

2 comentários:

Melina disse...

ixi menina, me identifiquei com o seu texto.
Eu também nunca mudei de casa desde que nasci. E no final do mês, eu também estou me mudando, novas pessoas, nova casa (sem papai e mamãe) pra estudar. Dá um friozinho na barriga e o medo de ter que voltar. Porque né. Sempre acho que se eu voltar, voltarei com um "loooser" bem grande na minha testa.

Mas tamo aí, né? Tentando descobrir. Andando aos poucos e vendo que a vida vai muito mais além dos locais que já conheço ;)

Melina F. disse...

vim aqui porque mudei de endereço de novo, moça ;)

já tá atualizado nesse perfil :*