Do desconcerto

Tu deviens responsable pour toujours de ce que tu as apprivoisé.

Não com pouca freqüência, escrevo para tentar ordenar os pensamentos, distinguir o que é real e o que não é, mas cada dia fica mais difícil separar realidade de imaginação. E existe realmente diferença?, me pergunto. Penso demais, durmo demais, sonho demais. E há dias em que os sonhos parecem menos estranhos do que a vida de acordado e a sensação é de que a qualquer momento o Stéphane vai entrar pela minha porta e colocar motores na minha girafa de pano. Hoje é um deles, e também um daqueles em que escolheria a doce falta de responsabilidade, a ausência de expectativas, o delírio de uma solidão imensa : minha concha construída com cuidado e paciência, alguma dor também.

Porque viver entre pessoas é complexo e sair correndo e se esconder embaixo da cama não é uma opção válida. Até minto que sou madura e resolvida, mas depois de tantos anos, ainda sou insegura e anacrônica; a mesma menina de projetos falidos, mochila pesada e tênis sujos, que volta para casa arrastando os pés no fim do dia, sem tato para lidar com as pessoas, fingindo e calando, se anulando para agradar alguns, inconscientemente alimentando a ilusão de outros.


Admito que muito me assusta merecer estima alheia, principalmente por não fazer por onde a obter, então eu poderia bem fingir que nada acontece, que a vida segue meio boba como sempre. A fuga sempre foi a minha saída mais fácil, lagarteando pelas paredes, ligeira e sutil, sem quase deixar rastros, para alguma fresta que me albergasse. Mas venho tentando evitar essa opção excessivamente pusilânime.

Andei pensando em várias coisas que eu poderia te falar, para apaziguar essa tua alma cansada de tanta ansiedade e tantas noite mal-dormidas, esses teus olhos que por vezes parecem pedir socorro a todos e a ninguém, porém nenhuma frase me saiu completa. Dizem por aí que eu sou boa com as palavras, mas não é bem assim. Elas sempre me faltam nos momentos mais melindrosos e o silêncio permanece enorme, enorme.

ouvindo: Worrywort, Radiohead.

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