- The more you know who you are, and what you want, the less you let... things upset you.
Passei a tarde de sol dormindo e agora tenho uma madrugada inteira em claro pela frente. Lá fora chove, e tanto, num céu cor de rosa que não demonstra trégua tão cedo. Não faço objeções: gosto desse cheiro de água lavando os telhados. E eu queria te contar como, contrariando o senso comum, os trovões me tranquilizam tanto. Esse barulho que vem repentino e cresce nos ouvidos, estremecendo por dentro, e o som de chuva tamborilando no chão de areia, no teto, nas folhas das plantas: sentimento de afago, um abraço de vento frio entrando furtivamente pela janela sempre aberta. Me consola pensar que esse abraço seria seu, se você estivesse por aqui.
Descrevendo o ambiente, eu diria: do meu lado, uma garrafinha de iogurte de coco já perto de perder a validade, na frente, um livro aberto esperando minha atenção, no chão, alguns livros empilhados e uns tênis sujos. E eu - cabelos lavados, camiseta grande, olhos lentos -, como poucas vezes nos últimos dias de existência cinza e confusa e inerte, me sinto em paz. Apesar de todas os atos mal-pensados, dos planos engavetados, da lenta desconstrução da mentalidade - que me deixa então sem saber para onde correr -, de não conseguir ser quem gostariam que eu fosse. Então fico passando os olhos por textos que ao mesmo tempo encantam e embrulham o estômago por me desnudarem em poucas palavras, fico cantarolando junto com os vários meninos de voz bonita que cabem numa pasta do meu computador e que falam coisas que nem cabem no meu peito apertado e tão árido, conformado e nem por isso menos dolorido, mas sobretudo sereno.
Coleciono contradições e tenho uma leve vontade de ter sido menos sensata e controlada, mais impulsiva às vezes, esse sangue ardendo sob a pele, mas só eu sei o quanto e por quanto tempo as coisas repercutem e reverberam na minha cabeça; seria necessário muito trabalho psicológico aqui e o passado não volta, de qualquer forma. Aquiesço e durmo olhando esse céu imenso, esses pontos infinitos, tanto de incertezas quanto de possibilidades, abraçada fortemente à joaninha de pelúcia.
Respiro em suspiros, sentindo o coração batendo e a cabeça latejando e as pernas levemente dormentes, numa harmonia particular e sublime.
Me sinto viva, hoje.
ouvindo: Together & Down, Benoît Pioulard.
lendo: O grande Gatsby, F. Scott Fitzgerald.

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