Eu vou ficar sentado à mesa, eu e minha camisa de mangas compridas, e meus sapatos engraxados por crianças anêmicas na manhã de ontem, e meu gel no cabelo repartido, eu e a gravata folgada ao fim do dia, e a terceira dose de uísque, e você que não chega, nunca foi mesmo pontual, mas eu espero. Envoltos numa melodia indefinida e num murmúrio suave, num cheiro agressivo de comida alheia e álcool próximo, esperamos, eu e o desejo surdo que me acompanha. Em situações assim, o tempo passa mais devagar. Compensava, porém, pensar no momento em que você entraria sem susto e deixaria sobre a cadeira sobressalente a bolsa de couro e o casaco e o pudor usado para se aquecer em dias de feriado aberto. Melhor assim, Teresa. Melhor assim. E quando então você finalmente estivesse sentada à minha frente - essa cena se repetindo sob minhas pálpebras retesadas - com o sapato de bico fino e salto mais fino ainda pendendo do pé da perna cruzada por cima da outra e com um vestido leve e fácil e com um batom nos lábios de borboleta desvairada, engraçado como em meu cardápio só haveria seu nome escrito.
ouvindo: L'ultima notte, Josh Groban.
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