Ontem eu afundei numa neblina de saudade que desde então tem-me deixado com os olhos meio embaçados, vendo o passado cheio de nuances que agradam mais do que as cores de agora. E não que eu não goste delas: gosto sim. Mas é que por mais bonitas que as cores sejam, às vezes a gente precisa de algum contorno também; de alguma harmonia no quadro. E isso tem faltado; agora sou só um amontoado de borrões de pincel, tentando fazer sentido. Geralmente consigo. Não hoje.
If you only knew the way I feel
I'd really love to tell you
Eu, você e todo mundo que a gente conhece mudou tanto esses dias que é difícil dizer que a gente ainda sabe quem é quem. Não que isso seja ruim. As pessoas envelhecem, enrijecem, suavizam, amadurecem, mudam de prioridades, de atitudes, aprendem a moldar as circunstâncias ou a fugir delas. É disso que a vida é feita, de um constante fluxo, de ondas de desejo e repulsa, de correnteza de acontecimentos que nos carregam pra longe (seja no sentido conotativo, seja no sentido geográfico). Mas eu queria, sabe?, queria de verdade que a gente pudesse ter compartilhado mais tempo, misturado cores e impressões, invadido o espaço do outro, desenhado um contorno que nos contivesse dentro dele, e vivido de uma maneira diferente coisas que a gente tinha inventado, cada um no seu canto, em longas noites de insônia, quentes tardes de tédio e silenciosas manhãs de rotina.
But I
Can never find the words to say
And I don't know why
Não encontrar as palavras e calar na tentativa de manter a ordem, por compreender as improbabilidades infinitas. Depois sair pelo mundo tentando se enganar. O tempo só torna mais complicado colocar pra fora o que não foi dito na hora certa. Se é que houve uma hora certa. Se é que de alguma forma poderia ter funcionado num plano além do pensamento. Se é que corações não foram feitos só para quebrar e sentir falta. Os anos vão passando e, de muitas maneiras diferentes, sinto sua falta.
But what do I know?
What do I know?
I know.
ouvindo: On a day like today, Keane.
lendo: Mrs. Dalloway, Virginia Woolf.
Nenhum comentário:
Postar um comentário