I bet that you look good on a dancefloor

O sorriso que hesitei por vários minutos em lhe oferecer acabou por atravessar o cômodo e rebateu inútil na outra parede, enquanto você usava no rosto uma expressão de quem não me reconhecera. Inevitável : me perguntei se havia mudado tanto assim ou se havia sido tão insignificante a ponto de não merecer lugar na sua memória. Por motivos de manter o orgulho intacto, preferi acreditar na primeira opção, a luz não está ajudando, e não desviar um só passo da trajetória rumo à mesa vazia mais próxima.

Algumas frações de hora depois, e me perguntei quantas doses de uísque foram necessárias para que você desistisse dos tantos metros de distância que lhe permitiam observar com cuidado todo o ambiente e, por tabela, minha dança pro vento. Agora não mais. E então? Não, nem eu sei o que fazer comigo. As meninas me puxaram de lado, censuras e risinhos de vinho demais. O que elas não entenderam, babe, é que não se tratava de manter qualquer postura. Fim de festa e éramos decadência, com prazer. Toda essa cena pós-etílica sob luzes ensandecidas foi apenas a maneira encontrada por nós para fugir, por poucos minutos, das tentativas frustradas, do mundo lá fora, das agonias que sufocam.

Fui pra casa sem saber se você no final lembrou quem eu era, inclusive porque também não lembrei seu nome. Diálogos inexistentes, sem despedidas.
E isso faz qualquer diferença?

ouvindo: Angry, bôa.
lendo: O jogador, Dostoiévski.

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