Eu, minha saia lilás, minha blusa preta de alcinhas usada com um daqueles sutiãs de silicone que grudam, sabe? Sandália com um salto fininho, brinco com
E eu poderia ficar em casa, usando shorts, uma camiseta confortável e meu aparelho de contenção, fazendo muito mais proveito da minha vida, estudando coisas úteis(?) como a teoria protônica de Brönsted-Lowry ou lendo tirinhas antigas do Liniers. Eu poderia tentar descobrir se o Correio ainda tá aberto a uma hora dessa e mandar os presentes que já deveria ter mandado ou ver um dos filme do computador, poderia ir à padaria de bicicleta e comprar aquele pão de leite ou deitar de novo e dormir mais, apesar de ter acordado agora há pouco.
Mas não.
Vou ficar sentada vendo alguma programação enfadonha, renovação de votos e filhos comovidos, enquanto enfio sorrateiramente a maior empada da mesa na boca de um movimento só. Reunida por conveniência numa mesa com pessoas com quem não tenho nenhum assunto relevante, que estarão falando sobre coisas que não me interessam em absoluto, certamente vou ficar sendo terrível durante horas, pensando nos defeitos e falta de senso de ridículo ao se arrumar de quem passar por perto ou até mesmo pensando em textos incríveis que serão esquecidos assim que eu tiver um computador em mãos.
Por que meus pais têm que conhecer tanta gente?
Ou que conheçam, vá lá; mas por que insistir em me levar junto nesse tipo de coisa?
Por que não posso levar um livro?
Por que nunca há ninguém simpático que goste de Amélie Poulain nesses lugares?
Pior, por que não consigo dizer taxativamente olheunãovounumvoumesmonumvonenhapau?
Nem botei o pé fora de casa e já ouço o glorioso som do tédio.
ouvindo: Where birds don't fly, Club 8.
lendo: Para gostar de ler, volume 13 - Histórias divertidas.
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