Mas é como se eu fosse um grão de poeira, que um dia tivesse pertencido a algum lugar, rocha-mãe e muita solidez, mas no fundo tivesse sempre tido consciência da erosão que lhe cabia. As placas se movem; eu, sobre elas, por inércia. Mas é tudo tão lento. Eras passam e eu deveria mesmo ficar aqui? Tão leve e indiferente, pouco notada.
Sinto como se esperasse um vento, qualquer vento, que me levasse a ver o mundo, mudar de ares em rodopios amalucados, saltos desconjuntados, cambalhotas involuntárias; ser sugada em turbilhões de desacato que desfariam penteados e fariam voar saias.
Eu choveria com as monções em rios amarelos, até lilases, quem sabe? Pegaria carona em alísios, contra-alísios; chegaria sem ser notada, passaria por debaixo da sua porta; dançando em arco-íris feitos por frestas da janela, eu esperaria você chegar. Enquanto isso, outros ficariam no aconchego e quentura do lar, tornando-se depois de anos - muitos, bilhões -, diamantes estáveis, inquebráveis, valiosos e bonitos.
Já desisti da beleza
: preferiria em meu rosto mil rugas de espontâneas aventuras eólicas a ser moldada em padrões de jóias frias.
ouvindo: Hands playing butterfly, Efterklang.

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