Dos convites improváveis

eu entenderia:
teu sorriso de plano aberto,
teu preocupar-se constante,
teu caminhar de botas porta afora,
teus assobios em noites quentes de abril.

e haveria, em contínuo,
meus desvairios de meia légua,
meu sumiço presente e meu descaso atencioso,
minha dor de veia aberta a faca.

contanto que
apenas:
meias furadas, chaleira pro café,
cds arranhados, hidratante de morango,
revistas recortadas, enxugar pratos de louça,
quinta-feira madrugada, maracujá pra dormir,
perfume costurado à minha blusa de algodão.

e eu correria sobre estacas,
acenderia fogueiras sob a chuva,
pintaria até os olhos,
rouge-rouge nas maçãs e pó de arroz à grega.

pularia sem medo
a ver e a sentir
minhas pétalas caindo
uma a uma a uma a uma.

(e teus passos de inseto inquieto,
dedos suaves de ligeireza e ânsia.)

giros de perna
piruetas e estalos de ossos:
eu me desdobraria em origamis
- lírios em papel seda cor de azul -
por um sorriso de lençóis amassados.

no promisses, no demands.
just don't leave
~

ouvindo: Hints, José González.

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