Tenho tido problemas para dormir à noite e penso se isso não seria consequência, além do incômodo gípseo (sempre quis usar essa palavra), dessa posição terrível em que minha mãe colocou a cama, assim atravessada no meio do quarto. Porque cama boa é a) cama de solteiro pra dormir encostado na parede; b) cama de casal pra dormir espalhado. Aí você me pergunta, mas por que não coloca a cama na posição anterior, e eu lhe respondo, porque isso é meteorologicamente inviável. E isso exige umas explicações a nível de arquitetura.
Na época do projeto, minha mãe e a arquiteta resolveram que a melhor idéia para o meu quarto era um pergolado. (O Google só me retorna 12.300 resultados para essa palavra. Muito pouco. E eu não sei se existe outro nome para isso. Mas enfim.) Como se minha idéia de uma estante para livros ou de um móvel qualquer não fosse melhor. Como se meu quarto fosse o mais espaçoso do mundo para desperdiçar uns centímetros quadrados com um quadrado para entrar sol e colocar umas pedras e umas plantas. Como se eu fosse muito fã de tomar conta de plantas, regador todo dia e tal. E nem ao menos entra sol suficiente para um cacto, que é uma planta bacana e que não exige tanta água.
No início fui contra a idéia, mas como os argumentos giravam em torno da ventilação e iluminação do ambiente, cedi. O problema é que pergolados são nada mais que um buraco no teto. Ou seja, quando chove, cai água aqui dentro. E se a chuva for forte, a água tem um raio de atuação que extrapola o limite do pergolado. De acordo com resultados experimentais, a minha cama estava na posição mais bacana, nem atrapalhava a circulação nem nada. Até que veio essa temporada de chuvas durante a madrugada e estragou tudo, porque fica sempre chovendo em cima de mim. (E isso não é uma metáfora a la Travis.)
Então reflita. Eu não posso mais dormir como quero porque, levando em consideração a atual posição do guarda-roupa, não existe um lugar onde a cama fique enxuta durante a chuva E coladinha na parede ao mesmo tempo. Que fazer? Colocar uma dessas telhas transparentes de fibra de vidro resolveria o problema da água e eu continuaria com o sol. Mas aí acaba o vento. E vamos ser sinceros: nessa história de aquecimento global, ilhas de calor, baixas latitudes e clima equatorial, recusar vento é sinal de insanidade.
ouvindo: Going underground, I am the World Trade Center.
lendo: O retrato de Dorian Gray, Oscar Wilde.

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