Mudança


Estou mudando de apartamento.

Preciso encaixotar as coisas úteis de todo dia, encontrando o melhor jeito de acomodar pratos e canecas, uma caixa inteira de roupas, as sacolas com comida, os livros, os vários frascos do banheiro. Mas o difícil mesmo é dar de cara com o meu gigantesco apego material, o desgaste de querer e não conseguir se desvencilhar, as decisões de o que vai e o que fica, tornando o processo demorado, cansativo, extenuante. (Estar doente não ajuda.)

Percebo que cresci com a mesma mania da minha mãe, de guardar coisa inúteis na crença ingênua de que um dia precisarei delas, ou de que minhas memórias estão condicionadas à existência de uma coisa palpável que possa despertá-las. É difícil se desfazer dos cadernos com letra bonita, das agendas coloridas, das 200 folhas de papel que poderiam servir de rascunho, se alguém por aqui ainda usasse papel para alguma coisa. Mais canetas do que em qualquer fase da vida, se acumulando no porta-lápis improvisado que fica no canto da mesa. Tantas coisas que comprei e nunca nem usei.

Consegui jogar alguns CDs gravados, rasguei talões de cheque, já desisti de ler várias revistas. Mas é tanta coisa que parece que não tem fim. Queria poder ir pra casa nova com aquela sensação boa de recomeço, mas não vai dar tempo disso acontecer.

ouvindo: L'enfant roi, Noir Désir.
lendo: A feast for crows, George R. R. Martin.

2 comentários:

Sebs disse...

Já se passaram 3 anos, mas eu continuo achando isto tão bonito...

Apple B. disse...

nem esperava que alguém ainda revirasse isso, foi bom receber esse comentário e voltar aqui. às vezes penso que deveria voltar a escrever.