Correspondência

De férias na casa dos pais, tentei me entregar à tarefa de arrumar o antigo armário e seus resquícios de uma vida em outra cidade. Não é fácil.

Em caixas com tampas coloridas, evidências materiais da época em que éramos incrivelmente jovens. De quem dividia classes, bilhetes bobos de desgosto contra professores, auto-fofocas do fim de semana, distrações da aula em pequenos fragmentos de uma vida que agora parece muito distante. De quem morava perto, cartões de aniversário, curtas cartas inesperadas e cheias de sentimento que precisava ser escrito. Dos que moravam longe, cartas compridas em finas folhas de caderno, que chegavam em envelopes de papel madeira, o endereço escrito com capricho em letra de forma; alguns com tons de rosa - vestígio da cola da agência dos correios, poemas, outros com saliências que revelavam pequenos presentes, xerox de um texto preferido, livros emprestados, pequenos chaveiros: tínhamos sede de alguma forma de presença palpável que a internet não supria. Tenho saudades de receber no correio notícias que já vinham atrasadas, mas eram mais doces do que qualquer atualização instantânea.

{ envelhecemos e quase já não nos falamos - há um carinho latente e uma estranha barreira de comunicação que ninguém se esforça para romper;
envelhecemos e quase ninguém sabe como é minha letra;
envelhecemos e me perdi das palavras e frases e cartas e livros;
envelhecemos e eu envelheci mais que devia }

2 comentários:

Ramilla Souza disse...

Fazia um bom tempo que eu não vinha aqui, mas é incrível como sempre é incrível. Sabe, faz tanto tempo que você tem blogs e eu os leio, mesmo antes da gente se conhecer direito e, durante esse tempo, sempre me deu algo novo, algo bonito. Eu penso que sinceridade e confissão é o melhor que a gente pode oferecer a alguém. Mesmo que não seja feliz, mas é de nós para outra pessoa.

É engraçado como você fala de coisas tão difíceis e, mesmo assim, eu leio e me sinto um pouco mais feliz.

Um abraço enorme, Aninha.

Juaum disse...

Não sei como é sua letra =( mas sempre gostei da sua forma de se expressar, por mais que muitas vezes sejam pensamentos tristes, sempre são poeticamente sinceros e doces. E eu sempre venho aqui te abusar e tentar levantar seu astal =P

Acho que essas coisas a gente esquece, mas quando vai ficando velho sempre relembra e tenta contar para o outros o quando os pequenos detalhes foram reconhecidos como importantes... é a sabedoria que só a saudade e a maturidade sabem revelar.

Felicidades pra mocinha!