Sociedade secreta

Eu não sei o que é isso que se passa com a gente.
Tanta gente boa pelo mundo, se tendo em menor conta do que deveria, todo mundo calado, retraído, hesitante e com receio de falar o que quer e o que pensa. Ou falando demais, mas sobre coisas aleatórias, só pra esconder o que se passa de verdade. Uns indo pro psicólogo porque, mesmo se têm amigos, não conseguem conversar; outros que escrevem em cadernos ou em blogs, tentando fazer sentido das coisas; outros que apenas vão engolindo e seguindo em frente, cultivando cânceres que aparecerão um dia sem explicação aparente.

Antes eu achava que era só eu a ter esse sentimento ruim de inadequação, mas aos poucos vou identificando pelo mundo tanta gente assim que começo a achar que somos uma maioria absurda que censo algum mostraria em gráficos: é difícil admitir em voz alta essa condição loser intrínseca num mundo que exige que a gente seja magro, rico, bonito, feliz, produtivo e bem disposto em tempo integral; então a gente segue, fingindo o quanto pode.

E de vez em quando, ao ver um companheiro de confraria, a gente faz o cumprimento secreto, aquele olhar de "eu compreendo tua dor, porque ela também é minha" e continua andando pra alcançar sabe lá deus o quê.

ouvindo: Falling, Ben Kweller.
lendo: Harmada, João Gilberto Noll.

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