Doutores, é provável que haja alguma relação entre o fato de estarmos tão entretidos e a sensação generalizada de que o tempo está passando mais depressa. Numa sociedade de olhinhos brilhantes e ansiosos voltados para o entretenimento, com a retaguarda à disposição para a dedada universal, o cenário mais natural é a abolição do tempo. Precisamos ficar entediados para que o tempo passe no ritmo em que costumamos experenciá-lo. Como no colégio. Lembro de tudo o que aconteceu no primeiro, no segundo e no terceiro ano - os personagens que foram integrados, as intrigas, as tardes infinitamente bolorentas. Já na faculdade, quando o nível de entretenimento cresce, os eventos começam a se confundir. Hoje, com seriados e ipods, já sequer vale a pena comprar agendas datadas. Em Fortaleza, sentado na sala, não consigo sentir na pele que estive um ano em Belo Horizonte. Da sensação de que passou depressa para a sensação de sequer ter passado é um salto. Uma sociedade inteira de pessoas com a fugidia sensação de que algo aconteceu. Não custa muito e logo o tédio será artigo de luxo. Quem puder pagar para ficar entediado, pagará. Quem não puder, terá de passar o dia às gargalhadas, ou se comovendo, ou se excitando. O problema é o único problema: a morte, a quem pagamos a conta de tanta diversão.
(retirado daqui: dessincronizado.)
ouvindo: Flight Pattern, Lakes of Russia.
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