, mas é que os sentimentos estão assim numa senóide descontrolada e tem dias em que eu estou muito bem, e dias, como hoje, em que eu estou apenas ok, e respiro fundo e penso, é, lá vamos nós de novo, seguindo em frente, porque é muita pretensão achar que eu mereço sofrer menos do que qualquer um por aí, e nem é também como se houvesse um motivo qualquer, é só uma conjunção de pequenos fatores, que você deixou se avolumarem e tomarem proporções astronômicas, bem aqui dentro da sua cabeça, porque externamente isso não é nada. cada um tem seu universo de problemas, e por que os meus seriam tão mais noticiáveis? não são. minha mãe pergunta como estou, e eu digo que tou indo, que vou tentar ficar bem. tentar não, é pra ficar, ela diz, e não é como se fosse assim tão simples. e sim, sinto saudades, mas não é como se eu achasse que pertenço exatamente a algum lugar, ou que estar em algum lugar é que vai mudar esse fardo de ser quem se é. never let them see how lost you really are, dizia o poema, mas eu não sei se esconder isso vale o esforço. e canalizo as forças pra outras coisas, ah como quero ser forte, preciso ser, e olho pela janela, esse quadro que eu tanto gosto e que é a parte preferida da casa de todo mundo que vem aqui (engraçado, a parte preferida ser o mundo lá fora, uma paisagem numa janela de vidro), sentar na escrivaninha e abrir a janela, ficar sentindo o vento frio que arrepia e abraça numa noite fria, mas sem chuva, os carros pequenos indo e vindo lá embaixo. e teve aquele dia em que o coração de repente palpitou ligeiro e eu saí de banda, pisando duro e fingindo qualquer coisa; e aquela da lágrima escorrendo pequena junto com a lóri e seus terremotos interiores, que também existem aqui; e eu só queria que esse sentimento fosse embora, por que a gente se desgasta por coisas que não valem a pena?, acho que é meio masoquismo, vai saber, mas é difícil se desfazer dessa bagagem de frustrações e decepções que a gente foi colecionando sem querer. e aí isso faz a cabeça doer, e o estômago queimando, o intestino que não funciona, e a moleza que se espalha pelo corpo inteiro, e a vertigem ao meio-dia. vontade de tomar aqueles comprimidos pra enjôo que sobraram da viagem (dois dias inteiros num ônibus olhando paisagens e cantando sozinha), os comprimidos que trazem sono como efeito colateral, dormir pra fugir do mundo, mas dormir é se entregar e, ah, eu tenho tanto pra fazer, tanto, tanto, tanto, tanto.
*sigh*
ouvindo: Sleeping torpor, Anathallo.
lendo: Uma aprendizagem ou o livro dos prazeres, Clarice Lispector.

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