Não sei se por costume de muitos anos, mas escrever faz parecer que a vida é de verdade, mais intensa, não apenas uma projeção de vontades ou um sonho que pode acabar quando você acordar babando no travesseiro.
O ato de reviver sentimentos, de repassar momentos, de lapidar um pouco o que acontece, para que saiam bonitos num texto acaba por fazer com que se enxergue com maior clareza a poesia intrínseca, com que tudo seja internalizado de uma maneira mais organizada.
(Engraçado isso, de precisar jogar num papel antes de guardar de volta na memória, enquanto ouvindo músicas que despertam regiões específicas do cérebro relacionadas à intensificação das percepções sensoriais - nem sei se isso existe.)
E tenho vivido uns dias que realmente precisavam ser escritos, bem à moda dos textos antigos, aqueles com muita entrega e entrelinhas, aqueles que hoje eu leio e sinto de volta tudo o que sentia na época, porque eram bobos, mas sinceros. Porque o que tem-se passado agora é algo que não quero perder, e ao mesmo tempo tão difícil de explicar. Falar sobre como coisas que eu duvidava aconteceram, sobre redomas de vidro - resguardando o coração contra ataques quaisquer - sendo quebradas e ninguém indo juntar os cacos, porque não é preciso. Sobre sorrisos sem motivos, sobre leitura mental através do fundo das pupilas, sobre viver de verdade a letra de uma música que você já gostava, sobre cenas de filme, antíteses, metáforas, tatuagens e bombas atômicas.
ouvindo: I will leave at dawn, Chkrrr.
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