Depois daquele gato morto

É que era tudo de uma violência tão ríspida, que ela preferiu ficar calada.
Simples, sabe, como se tudo voltasse. E volta mesmo. Não ao normal., Mas ao estado das coisas. À forma que tinham tomado antes. E tomam de novo. Tudo estranho, externo, difícil. Mas arrumado. Era assim que ela queria. Na verdade, não. Era assim que ela podia, e isso era o suficiente. Tinha que ser.
Aí apareceu. Um momento. Vago. Deus. Um homem. Um cachorro. Um besouro. Besouro, isso, besouro. Não era uma barata, ela sabia a diferença.
"O que você está fazendo? Deixa isso aí e vem. Não se brinca com isso"
"Não vou brincar."
"Vai fazer o quê?"
"Vou guardar até que apodreça. Ou cresça. Ou multiplique. Não faz diferença. Só quero guardar."
"Cala a boca e vem. Porque eu te amo e nâo quero te fazer mal."
Ela não queria. Mal. Só guardar. Apertar. Os pomos podres podem de vez em quando exalar um cheiro doce. Enjoa. Doce.
Queria? Tinha que voltar.
Tinha? Sempre essa questão. Não fez, não havia voltado tantas vezes, e nada havia acontecido. Faziam muita coisa, mas no dia seguinte tudo, tudo, tudo, tudo, tudo era igual. Ela queria mudar. Só não gostava de.
(Y.K.)

ouvindo: Reckoner, Radiohead.
lendo: O existencialismo é um humanismo, Sartre.

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