Eu sempre gostei de observar as pessoas e desenvolver teorias sobre coisas diversas, mesmo que não tenha a mínima competência para fazê-lo. (Menos filmes. Não sei inventar teorias para eles.)
Quando pequena, e isso não deve ser muito saudável na cabeça de uma criança de sete anos, eu acreditava que as pessoas, salvo raras fugas à regra, namoravam por convenção cultural, pelo simples fato de que a probabilidade de ter o amor retribuído por alguém era realmente muito mínima e precisavam arranjar uma saída. Era como um acordo, onde um vinha com o amor já pronto e valendo por dois e o outro com outra vantagem à escolha (e nem precisava ser vantagem, podia ser só o medo de ficar só). Então as pessoas acabavam se entendendo, desenvolviam uma amizade bacana com adendos especiais, aprendiam a ter algum respeito e amor mútuo e se casavam para tornar a vida menos solitária, já que não podiam mais brincar na rua e ter coleguinhas de colégio. (E claro que na época as palavras e as idéias não se articulavam assim, mas em linhas gerais era isso.)
Depois vieram Hollywood e os livros do Romantismo e eu comecei a achar que talvez não fosse bem assim e que as tais exceções fossem na verdade a regra. Algum fundo de verdade tinha que haver ali, naquela água com açúcar de final de novela, naqueles sentimentos grandiosos e descontrolados, até. Não é possível que fossem deixar todo mundo mentir desse jeito e não fazer nada. (Hoje em dia não tenho muita certeza a respeito de uma coisa ser verdade apenas por ser dita por muita gente. Manipulação das massas e o escambau.)
Depois-depois eu cresci e começou o natural leva-e traz de atrações não-correspondidas, tanto de minha parte quanto da parte alheia, com algumas poucas situações diferentes, sendo estas também cheias de outras complicações que não vêm ao caso. Foi nessa época que descobri o cinema mais amargo e literaturas nem tão felizes assim. Passei a acreditar no meio termo e é assim que eu levo meus dias, balanceando coisas que tenho vontade de fazer com as coisas que eu preciso fazer, nunca me prendendo por muito tempo a um só dos extremos.
Aí vem você, inesperadamente, com uma conversa mole e um tanto etílica, dessas que eu escuto por não saber me desvencilhar da situação, tentando me convencer de que (mais do que apenas na Física) os opostos se atraem e que eu deveria ao menos tentar: você me provaria que estava certo nas suas expectativas criadas sem que eu nem sonhasse. Parecia tanto com as minhas teorias de infância que eu quis rir, mas não saberia explicar, então aguentei. Era como insistir para que algo já começasse sem dar certo, me pedir para me esforçar por uma coisa que não sinto necessidade; por que tentar, então? Não é preciso. Mas você não via nada disso e eu acho mesmo é que as pessoas gostam de cegueira seletiva.
Ora, francamente.
Sou uma velha ranzinza que gosta de chá e cria gatos.
Eu não tenho mais energia nem disposição para esse tipo de coisa.
ouvindo: Your love alone is not enough, Manic Street Preachers.
lendo: Muito barulho por nada, Shakespeare.
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