Das demonstrações públicas de afeto

O professor de História falava sobre Romeu & Julieta quando alguém bateu à porta. Era um funcionário da escola acompanhado por um entregador de flores. Chamaram pelo nome de uma das meninas da sala, trocando somente a última vogal. Não era dia do aniversário nem nada, ela achou que estava errado. Depois disseram um segundo nome, bem incomum e que até agora ainda não entendi, e ela nem teve como negar. Veio andando, toda desconcertada, passou do meu lado com meias e chinelos e foi buscar o buquê.

(Parêntese: Certo que em alguns pontos da sala realmente faz frio e que hoje estivesse chovendo, mas acho que nada justifica usar meias brancas com Havaianas em público aqui no Brasil, a menos que você esteja fantasiado de japonês.)

Então. Então que no fim das contas, todo mundo fazendo alarde pra saber quem tinha mandando e por que, alguém abriu o cartão e descobriu-se ser presente de um menino da sala. E eles nem são namorados nem ficantes nem nada. Tão engraçado ver os dois cada um mais envergonhado que o outro. E eu acho que nunca tinha visto uma dessas cantadas românticas a la século XIX tão de perto.

Não vou ser mentirosa e dizer que não gosto de rosas ou de outras flores mais. Ainda que eu ande toda amarga pelo mundo, ainda que fora dos ramos elas sejam (convenhamos) uns cadáveres, certamente não recusaria recebê-las. Foi tão bonito aquele dia em que ela me deu uma rosa vermelha bem grande - eu até escrevi um poema depois. Mas tudo o que uma pessoa precisaria para acabar com toda e qualquer chance de um envolvimento amoroso comigo seria me fazer passar vergonha na frente de todo mundo. Receber umas flores no conforto do lar é uma coisa; recebê-las no meio da aula, colocar faixa na frente da casa, carro de som com mensagens: isso me faria sentir tanta vergonha que a pessoa poderia esquecer qualquer saudação ou bom dia durante uns três anos, no mínimo.

ouvindo: Shankill Butchers, The Decemberists.

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